Rios Secos no Oeste da Bahia: Estudo Aponta Mais de 3 Mil Trechos Afetados pela Escassez Hídrica
Levantamento indica desaparecimento de cursos d'água e impactos ambientais na região
Um estudo recente revelou um cenário alarmante para os recursos hídricos do Oeste da Bahia. O levantamento "A Morte das Águas no Oeste da Bahia", realizado entre 2023 e 2024, identificou mais de 3.000 trechos de rios, córregos e nascentes que secaram completamente ou estão em estado crítico, somando uma extensão de quase 11.000 km. O impacto afeta diretamente as comunidades locais, que dependem dessas águas para subsistência e sobrevivência cultural.
O estudo foi conduzido pela Pastoral do Meio Ambiente (PMA) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), com participação dos pesquisadores Thiago Damas, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Eduardo Barcelos, do Instituto Federal Baiano (IFBaiano/Valença). A pesquisa abrangeu as sub-bacias dos rios Corrente e Carinhanha, próximas às fronteiras da Bahia com Goiás e Minas Gerais.
Comunidades em alerta
A seca dos cursos d'água não é novidade para os moradores, que há anos denunciam o desaparecimento das águas e organizam manifestações simbólicas, como romarias com cruzes representando rios extintos. "As comunidades conhecem seus territórios e sabem o que está acontecendo. Elas foram fundamentais para identificarmos os trechos secos e aqueles que estão à beira do colapso", afirmou Amanda Alves, comunicadora da CPT Centro-Oeste da Bahia.
De acordo com os relatos, o processo de secagem das águas na região começou a se intensificar na década de 1980, com a expansão de projetos de "desenvolvimento" que incluíram o desmatamento de grandes áreas do Cerrado para monoculturas como pinus e eucalipto.
Expansão agrícola e crise hídrica
O Oeste baiano é considerado uma das últimas fronteiras agrícolas do Brasil e tem sido palco de uma expansão acelerada do agronegócio. Segundo o estudo, a ocupação intensiva de terras tem causado impactos severos nos recursos hídricos, com grandes latifundiários apropriando-se de fontes de água para irrigação. Dados do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) apontam que, em 2021, o governo da Bahia concedeu 1,8 bilhão de litros de água por dia em outorgas para representantes do setor agropecuário.
Para ilustrar a desigualdade no acesso à água, o estudo aponta que apenas um CPF recebeu autorização para captar 466,8 milhões de litros diários. Esse volume seria suficiente para abastecer milhares de moradores de cidades como Correntina e Jaborandi, que enfrentam escassez hídrica.
Conflitos e resistência
A disputa pelos recursos naturais tem resultado em conflitos crescentes na região. De acordo com o relatório "Conflitos no Campo Brasil", da CPT, a Bahia lidera o ranking de disputas por terra e água, registrando 249 casos em 2023. As tensões incluem ameaças de morte, tentativas de assassinato e mobilizações populares, como o histórico levante de 2017 em Correntina, quando milhares de pessoas protestaram contra a exploração predatória das águas.
Agora, os organizadores do estudo pretendem ampliar a conscientização sobre a crise hídrica na região. Mapas detalhados estão sendo distribuídos para escolas e comunidades, como forma de alertar para o risco de desaparecimento definitivo de importantes rios da Bahia.
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